sexta-feira, 11 de abril de 2014

Pensar em redes indo além das simples ligações entre nós: clustering e hubs



Bem vindo ao mundo das redes. Estamos conectados, temos potencial para tanto. Com um perfil no Facebook, eu posso encontrar milhares de pessoas que já foram presentes em minha vida, ou até conhecer novas pessoas. Com um blog, ou um canal do youtube, eu posso expressar o que eu quiser. As redes nos dá potencialidades de produção de conteúdo, construção do conhecimento, e conexões. Mas antes de louvar a Web 2.0 ou a sociedade em rede, é preciso saber: tudo que é colocado na internet é visível? Eu sou uma pessoa fácil de encontrar?

Se estamos numa sociedade altamente conectada, a resposta provável é que sim. Se a definição de rede social é sobre nós conectados, e se estamos inseridos nas redes (na minha rede social, na rede de computadores, ou em qualquer rede), então não temos o que temer. Na famosa imagem de rede de Paul Baran, a lógica de conexão nos faz imaginar em uma rede distribuída que conecta tudo... mas redes não são apenas nós conectados. Quando falamos de internet e redes sociais, devemos pensar nas dinâmicas do cotidiano, das altas interações, do movimento, da aglomeração.

O ponto principal da rede social é a interação. E segundo Augusto de Franco, "tudo que interage clusteriza, independentemente do conteúdo, em função dos graus de distribuição e conectividade (ou interatividade) da rede social"



Clustering são os aglomerados. E nos aglomerados de pessoas, de instituições, de atores-rede, precisamos considerar as diversas possibilidades na interação. Pessoas são diferentes, com culturas diferentes, histórias diferentes, estão em territórios diferentes, possuem suas manias, suas loucuras, seus interesses. Com as instituições podemos pensar o mesmo. Nesse sentido, redes não são apenas nós ligados entre si. São movimentos com vida, possuem sentidos para sua existência. Pensar em redes (ou na sua construção de plataformas/ambientes para sua dinâmica) sem considerar o dinamismo, o contexto, os sentidos, ou a força construída através desta aglomeração, é deixar de olhar, de fato, para o seu potencial.

Isso significa que o potencial de uma plataforma de rede não é a tecnologia, mas a interação que se faz neste ambiente. E a tecnologia precisa seguir este lado potente.

E se pensamos numa rede clusterizada, como podemos pensar nas possibilidades de visibilidade do seu conteúdo?

HUBS

Sabemos das possibilidades de conexão que as redes sociais proporcionam para o usuário da ponta. As ferramentas Web 2.0 potencializam o internauta a uma participação ativa no ciberespaço. Ferramentas e ambientes com interfaces simples, como este blog, um twitter, um canal no youtube. Qualquer pessoa com um mínimo de experiência consegue criar o seu canal com o mundo. Ao mesmo tempo, numa rede altamente conectada, qualquer pessoa pode te encontrar (talvez seguindo aqueles passos da teoria dos seis graus de separação).

Mas, como lembra Barabasi, "para ser lido, é preciso ter visibilidade".

Ok, eu tenho potencial para ter o meu canal de comunicação com o mundo. As mesmas possibilidades técnicas do site das organizações globo (alguns dirão que não, mas a discussão não vem ao caso). Mas numa rede distribuída, por que eles conseguem mais visibilidade que o meu blog?

Como vimos antes, ao se pensar em redes, deixemos de lado o modelo estático de nós conectados e devemos pensr num organismo vivo, clusterizado, aglomerado. São pessoas que se conectam, que possuem sentimentos, interesses, culturas, experiências. Lula e FHC estão na rede, eles tem potencialidade de conexão, mas será que eles querem se conectar?

As redes sociais possuem nós/nodos e conexões. Só que uns tem mais conexões que outros. Isso não significa que estamos diante de redes centralizadas (que é um ponto que se coloca em um modelo mais estrutural, e não no que estamos refletindo aqui). A esses damos o nome de conectores, ou Hubs. São nós (pessoas, instituições, organizações, entre outros) que possuem alguma coisa que faz ter mais conexões. Eles possuem mais links, mais arestas que os conectam a outros nós. Segundo Emanuel Rosen, que traz o conceito de Network Hub, são indivíduos que se comunicam com mais pessoas sobre um determinado produto que um indivíduo normal.

Eles estão nos mais diferentes sistemas complexos. Em redes sociais (virtuais ou não), são aqueles que criam tendências, compartilham as notícias, criam conexões. São os que aproximam, que criam atalhos, formando uma estrutura de mundo pequeno (fazendo com que qualquer nó consiga chegar a outro nó sem dificuldade). Pensando numa rede como o SUS, em seu território, quem será o Hub da equipe de saúde da família, o médico ou o agente comunitário de saúde?

Um Hub é um influenciador. É o que pode potencializar a distribuição da informação. É o blogueiro da diabetes, que consegue unir e chamar a atenção para diversas discussões, protagonizando uma rede que conta com atores institucionalizados, laboratórios farmacêuticos, usuários e pesquisadores. Mas ele pode ser um Hub nessa rede, pois ele tem o poder simbólico (como diria Bourdieu), "o poder de fazer ver e fazer crer", o carisma. Na base da meritocracia.

Se existe o nó que chama mais atenção que outro dentro de uma rede complexa, então há um pequeno grande problema. Barabasi nos aponta que "os Hubs são o mais forte argumento contra a visão utópica de um ciberespaço igualitário" (pg 53).

Com a Web 2.0, podemos publicar o que quisermos (mas nos responsabilizando pelo conteúdo publicado, isso tem que ser óbvio). Mas será que esse texto aqui será percebido? Quantos irão ler? E compartilhar? As ferramentas de buscas são desfavoráveis aos sites com pouca conexão, às vezes os ignoram no rastreamento geral, tornando interessante aqueles que atendem aos critérios de seu algoritmo, entre eles o grau de conectividade.


Referências

  • @augustodefranco - FRANCO, Augusto de. Fluzz. 2013. Acesso em http://lasindias.com/images/b/bb/Fluzz_libro.pdf 
  • BARABÁSI, Albert-Lázló. Linked: A nova ciência dos networks. São Paulo:Leopardo Editora. 2009. Acesse o BarabasiLab aqui.
  • @EmanuelRosen - ROSEN, Emanuel. The anatomy of buzz: how to create word of mouth. New York : Doubleday, 2000

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