segunda-feira, 31 de março de 2014

Recursos Educacionais Abertos: Você sabe o que é?

Num mundo conectado, a colaboração é palavra de ordem. Se eu tenho algo que pode ser util ao coletivo, é preciso fazer rodar, compartilhar, e construir o que eu tenho com o que o outro tem. A tal inteligência coletiva só se faz presente quando entramos no processo de colaboração. Comunidades são criadas, tecnologias facilitam as trocas, e vamos recriando uma nova sociedade. É preciso deixar para trás o conformismo do individualismo, da concorrência, das disputas e da solidão.

E nesse cultura é preciso pensar em uma outra educação. Se pelas redes sociais conseguimos nos conectar, precisamos de processos de aprendizagem que sejam pautadas pela colaboração. E navegando pela internet através das minhas redes (meus contatos), conheci os Recursos Educacionais Abertos.

Logotipo do REA, desenhado por Jonathas Mello em parceria com a UNESCO

Assim como o software livre, o REA move milhares de pessoas, entre educadores, jornalistas, ativistas. O termo foi cunhado no Fórum de 2002 da Unesco sobre Softwares Didáticos Abertos, levando em consideração documentos internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção de Berna de 1971, definindo Recurso Educacional Aberto como

"os materiais de ensino, aprendizagem e investigação em quaisquer suportes, digitais ou outros, que se situem no domínio público ou que tenham sido divulgados sob licença aberta que permite acesso, uso, adaptação e redistribuição gratuitos por terceiros, mediante nenhuma restrição ou poucas restrições. O
licenciamento aberto é construído no âmbito da estrutura existente dos direitos de propriedade intelectual, tais como se encontram definidos por convenções internacionais pertinentes, e respeita a autoria da obra", como podemos ver na Declaração REA de Paris de 2012.

Resumindo: É um material educacional que pode ser utilizado por outrem. Isso significa que, através de uma licença e num formato de arquivo acessível, qualquer pessoa pode usar, mexer/remixar ou compartilhar livros, planos de aula, vídeos, áudios, imagens, apresentações e o que você permitir. Numa cultura de colaboração, você coopera facilitando o acesso ao que você cria para fins educacionais. É o conhecimento aberto, livre!

Isso pode ser interessante se você realmente entrar no espírito. Permitir que outros melhorem seu conteúdo, redistribuam, revisem, atualizem, é fazer a roda girar, participar de uma verdadeira transformação no mundo. Pois o conhecimento é construído de maneira colaborativa, com a presença de muitos. fazer que outros participem desta construção, emponderando o próximo.

Existe passo a passo para transformar meu material num REA?


Bem, o REA está focado nos recursos em si, e, para isso, algumas ações são importantes. É preciso pensar nessas possibilidades:

  1 - Conteúdo: é o material em si que você disponibilizará. Cursos completos, livros, artigos, coleções, materiais, entre outros. Mas antes de achar que seu material é aberto, faça a reflexão: é possível alguém usar e mexer neste arquivo? este conteúdo precisa estar em formato técnico aberto, para facilitar práticas como a remixagem. Por exemplo, pense se é melhor disponibilizar sua apresentação em pdf ou em ppt;

  2 - Ferramentas: Como vc disponibilizará. Usar software para auxiliar a criação, entrega, uso e melhoria do conteúdo é muito importante. Usar repositórios que ajudam a organizar e sejam de fácil busca, como é  caso do Campus Virtual de Saúde Pública Brasil (http://brasil.campusvirtualsp.org/repositorio) ou o Acervo de Recursos Educacionais em Saúde - ARES, da UNASUS (https://ares.unasus.gov.br/acervo/). Ou sites próprios, mas que dê condições para o reuso.

  3- Recursos para implementação: É preciso resguardar o material através das licenças abertas. Definir licenças de propriedade intelectual, com o objetivo de promover a publicação aberta de materiais. Alguns dos repositórios já possuem licenças pré-definidas, ou dão condições do usuário escolher a licença. Para aqueles que desejam colocar seu material num site próprio, é possível publicar na plataforma CC - Creative Commons, através deste link http://creativecommons.org/choose/?lang=pt

  4 - Práticas: É preciso incorporar em suas ações, em seus materiais, nas ferramentas as narrativas de uso. Incentivar, distribuir, reutilizar.

Tipos de Licença


O Creative Commons é uma organização sem fins lucrativos, que permite o compartilhamento e o uso da criatividade e do conhecimento através de licenças jurídicas gratuitas, fazendo com que o autor diga para todos como a sua obra poderá ser utilizada. A licença CC vai proteger as pessoas que vão usar seus conteúdo para não haver violação de direitos autorais, desde que obedeçam as condições escolhidas pelo autor. Se nós queremos fazer com que o nosso conteúdo seja compartilhado para a construção do conhecimento coletivo, então é preciso conhecermos as licenças Creative Commons. Bem, para não extender este artigo, sugiro acessar esta página: http://creativecommons.org.br/as-licencas/

Este artigo não se encerra por aqui. E aí, o que achou? Vamos tornar o nosso conhecimento livre e colaborativo?

Referências:


Cartilha sobre REA: http://www.rea.net.br/site/wp-content/uploads/2012/03/Folder-REA.pdf
Creative Commons no Brasil: http://creativecommons.org.br/
Recursos Educacionais em Saúde - Acervo: http://www.unasus.gov.br/page/ares/o-que-e-o-ares
Unesco - Declaração REA de Paris em 2012:  http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/Events/Portuguese_Paris_OER_Declaration.pdf
REA na Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Recursos_educacionais_abertos

Livro: Recursos Educacionais Abertos - práticas colaborativas e políticas públicas    http://www.livrorea.net.br/livro/home.html




quinta-feira, 27 de março de 2014

Marco Civil é aprovado com base nos princípios de governança e uso da Internet do CGI.br

São Paulo, 26 de março de 2014
Texto do NIC.br - Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR

Projeto de Lei aprovado na Câmara Federal dos Deputados defende a privacidade e neutralidade da rede

O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), organismo multissetorial responsável por integrar as iniciativas de uso e desenvolvimento da Internet no País, considera a aprovação do Marco Civil da Internet, na noite da última terça-feira (25), na Câmara dos Deputados, um grande avanço para a proteção dos direitos civis constitucionais dos brasileiros.

“A aprovação do Marco Civil é um importante progresso para a sociedade brasileira, pois a Internet é cada vez mais uma tecnologia indispensável para todos os segmentos da sociedade. O Marco Civil é também um importante exemplo que o Brasil oferece ao mundo, ao aprovar uma legislação que ordena os direitos e responsabilidades dos cidadãos, empresas e governo na Internet", destaca o coordenador do CGI.br, Virgílio Almeida.

As próximas etapas serão a tramitação do Projeto de Lei no Senado e em seguida a sanção presidencial, o que impulsionará o Brasil a ocupar uma posição de liderança mundial no debate sobre o futuro da Internet. O Marco Civil brasileiro poderá servir de inspiração para outros países, principalmente durante a realização do NETmundial - Encontro Multissetorial Global Sobre o Futuro da Governança da Internet, que acontecerá nos dias 23 e 24 de abril, em São Paulo e reunirá entidades internacionais de diversos setores envolvidos com a governança da Internet.

A consolidação dos direitos, deveres e princípios para a utilização e o desenvolvimento da Internet no Brasil a partir do Marco Civil é fundamental para promover a transparência e confiança no uso da Internet. “A atuação do CGI.br com seu modelo multissetorial de governança, torna-se ainda mais relevante para o avanço de uma Internet livre, democrática, segura e eficiente”, afirma Virgílio.

Durante todos os debates do Marco Civil na Câmara, o CGI.br manifestou apoio à proposta do relator Alessandro Molon. De acordo com o coordenador do CGI.br, o texto aprovado guarda diversas similaridades com o decálogo de princípios para governança e uso da Internet, proposto pelo CGI.br em 2009 e, hoje, visto internacionalmente como uma referência para a Internet.

No texto do Marco Civil, o CGI.br é mencionado em dois importantes artigos. O artigo 9º determina que as exceções de neutralidade de rede somente acontecerão por decreto e após ouvidos o Comitê Gestor da Internet e a Agência Nacional de Telecomunicações. O artigo 24º afirma que “o desenvolvimento da Internet no Brasil e a promoção da racionalização da gestão, expansão e uso da Internet, contará com a participação do Comitê Gestor da Internet no Brasil”.

O CGI.br reitera seu posicionamento sobre alguns dos principais aspectos do Marco Civil da Internet:

Liberdade, privacidade e direitos humanos
O uso da Internet deve guiar-se pelos princípios de liberdade de expressão, de privacidade do indivíduo e de respeito aos direitos humanos, reconhecendo-os como fundamentais para a preservação de uma sociedade justa e democrática.

Neutralidade da rede
Filtragem ou privilégios de tráfego de dados devem respeitar apenas critérios técnicos e éticos, não sendo admissíveis motivos políticos, comerciais, religiosos, culturais, ou qualquer outra forma de discriminação ou favorecimento.

Inimputabilidade da rede
O combate a ilícitos na rede deve ser dirigido aos responsáveis finais e não aos meios de acesso e transporte, sempre preservando os princípios maiores de defesa da liberdade, da privacidade e do respeito aos direitos humanos.

Origem – O projeto de lei do Marco Civil da Internet surgiu a partir da percepção de que o processo de expansão do uso da Internet por empresas, governos, organizações da Sociedade Civil e por um crescente número de pessoas colocou novas questões e desafios relativos à proteção dos direitos civis constitucionais dos cidadãos.

Nesse contexto, era crucial o estabelecimento de condições mínimas e essenciais não só para que o futuro da Internet seguisse baseado em seu uso livre e aberto, mas que permitissem também a inovação contínua, o desenvolvimento econômico e político e o surgimento de uma sociedade culturalmente vibrante.

O Marco Civil nasceu de uma iniciativa da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, que, em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro, estabeleceu um processo aberto, colaborativo e inédito para a formulação de um marco civil brasileiro para uso da Internet.

O principal elemento de inspiração do Marco Civil foi a Resolução de 2009 do CGI.br intitulada “Os princípios para a governança e uso da Internet” - http://www.cgi.br/regulamentacao/resolucao2009-003.htm. Além disso, recomenda-se a leitura da publicação “O CGI.br e o Marco Civil da Internet” em http://www.cgi.br/publicacoes/documentacao/CGI-e-o-Marco-Civil.pdf.   

Sobre o Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGI.br
O Comitê Gestor da Internet no Brasil, responsável por estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil, coordena e integra todas as iniciativas de serviços Internet no País, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados. Com base nos princípios de multilateralidade, transparência e democracia, o CGI.br representa um modelo de governança multissetorial da Internet com efetiva participação de todos os setores da sociedade nas suas decisões. Uma de suas formulações são os 10 Princípios para a Governança e Uso da Internet (http://www.cgi.br/principios). Mais informações emhttp://www.cgi.br/.  

quarta-feira, 19 de março de 2014

Marco Civil - Temos que fazer barulho!!!



Segundo Tim Berners-Lee,

"a não ser que tenhamos uma Internet aberta, neutra, em que possamos confiar sem nos preocuparmos com o que está acontecendo por trás do pano, não podemos ter um sistema de governança aberto, uma boa democracia, um bom sistema de saúde, comunidades interligadas e diversidade cultural".

Estamos numa luta contra os interesses das grandes cia de telecomunicações. Aquelas que detêm o cabeamento da nossa internet e que são inimigas da neutralidade na internet. Nessa luta, todos são convocados. Vovó que gosta de espiar suas amigas no facebook, jovens gamers, blogueiros, movimentos sociais que encontraram na internet um local para se comunicar (e fazer política). E como Benners-Lee nos lembra, a democracia, os sistemas de saúde, educação, cultura... É preciso conhecer a grande batalha da nossa atualidade. Lutemos pela neutralidade da rede, por uma informação neutra e livre.

O primeiro passo: assinar petições públicas, como a do Instituto Brasileiro do Consumidor, e divulgar, compartilhar. O IDEC criou este site para explicar melhor: http://marcocivil.com.br/

Se você acha que muitos dos seus amigos ainda não entendem a importância da discussão, ataque do melhor jeito nos dias atuais: com vídeos curtos.

Vejamos esse vídeo, um dos melhores que explica como a interferência no marco civil escrito pela população pode afetar no nosso dia-a-dia


Trago também alguns vídeos do deputado Alessandro Molon (PT/RJ), que nos ajudam a entender o que está acontecendo. Vamos, armem-se, essa luta é nossa!!



Vejam os outros vídeos preparados pela equipe do deputado no canal dele.

Sugiro também vídeos do sociólogo e professor Sérgio Amadeu. É possível encontrar muito material sobre a discussão



E aí? vamos lutar?

sexta-feira, 7 de março de 2014

10 razões para uma educação conectada

Esse texto foi retirado e traduzido do Intefblog




  1. O uso de redes sociais é parte da competência digital, que é uma das competências-chave para a aprendizagem no século XXI. (Gutiérrez Martín & Tyner , 2011)
  2. Integrar as mídias sociais e ambientes virtuais de aprendizagem em sala de aula é uma necessidade para evitar o aumento desta lacuna digital. Os alunos utilizam diversos meios/mídias para gerenciar informações e aprender dentro e fora da sala de aula. (Buckingham , 2008)
  3. Não podemos continuar a ensinar no século XXI como no século XIX. Para a educação de qualidade é necessário integrar novas mídias de gestão de informações e comunicação global, onde as redes sociais são uma parte importante. (Irazábal , 2012)
  4. O professor deve desenvolver as habilidades digitais necessárias que permitam apreciar a necessidade de incorporar as novas mídias para uma aprendizagem mais eficaz e atualizada. (Gil Mediavilla , 2013)
  5. O problema não é do computador e da conectividade. Os alunos estão conectados fora da sala de aula e usam regularmente as redes sociais. (Gisbert & Esteve, 2011)
  6. Para fazer uso eficiente de ambientes virtuais de aprendizagem e mídias sociais é necessária uma nova abordagem pedagógica. O aluno deve ter um papel mais ativo e criativo na sua aprendizagem. Os professores devem propor projetos de aprendizagem bem projetado, significativo, e guiá-los através dos desafios que surgem e resolução de problemas em colaboração/conexão com os outro. (Badia & Monereo , 2008)
  7. A capacidade de localizar e processar informações, conectar-se com nós/nodos ou fontes especializadas, é mais importante do que o que nós sabemos em determinado momento. Alimentação e manutenção de conexões é necessária para facilitar a aprendizagem contínua. (Siemens, 2007)
  8. É necessária a educação ligada ao desenvolvimento de novas capacidades, tais como filtragem e classificação de informações a partir da Web, participar e compartilhar em comunidades virtuais, compreender os seus próprios códigos de comunicação de contextos digitais, editar conteúdos digitais, criar e gerir a sua própria identidade digital. (Alvarez, 2012)
  9. O fluxo de informações dentro de uma organização é um elemento importante da eficácia organizacional. Criar fluxos de informação, gerenciá-la e distribuí-la coletivamente são atividades-chave nas organizações. Também nas escolas, eles receberiam benefícios significativos ao incluir um plano de uso de mídias sociais em seus programas educacionais. (De Haro, 2012)
  10. A Conectividade das pessoas permite o intercâmbio e a discussão de novas idéias e favorece a inovação. (Freire et al. , 2009)

quinta-feira, 6 de março de 2014

Cursos na Comunidade de Práticas - Educação em Rede para a Atenção Básica

O projeto Comunidade de Práticas tem trazido algumas questões muito importantes para a Atenção Básica e para o SUS. Questões emergentes, que não davam para esperar. E questões que não apenas problematizassem o contexto que estamos inseridos, mas tb que potencializassem a força do trabalhador da ponta.

A Comunidade de práticas existe há alguns anos, mas desde o ano passado (2013) ela ganhou um caráter mais social. Se antes ela já tinha sido concebida como uma rede social que valorizaria a colaboração entre os usuários, destacadamente os profissionais de Atenção Básica, hoje vemos uma ecologia de ambientes dinâmica, participativa, distribuída. Viável. Além das comunidades, vimos a construção de um evento com um gigante repositório de experiências das mais diversas Unidades Básicas de Saúde espalhadas pelo Brasil, além do surgimento do ambiente de cursos.

Desenvolvida em Drupal, com a necessidade de ser uma rede social, construir um ambiente de curso necessitava um olhar um pouco diferente. Trazer o modelo padrão de um AVA, como o Moodle, seria eficiente, mas não exploraria o potencial de uma rede social. Precisávamos avançar e criar algo diferente.

Com base em alguns modelos atuais, como os MOOCs (Massive Open Online Course) e o PLE (Personal Learning Environments), fomos desenhando uma arquitetura que valorizasse o social. Isso reverberou na construção do conteúdo, que precisava valorizar a colaboração, a troca de experiências, a conexão entre os usuários. E por aí podemos nos basear no conceito de Educação em Rede, com foco no Conectivismo.

Hoje temos um curso disponível, outros 6 esperando a finalização de seu conteúdo para serem disponibilizados. São cursos para o profissional da Atenção Básica. Aqui disponibilizo alguns links nas imagens abaixo. Aos poucos trarei algumas discussões conceituais e resultados práticos, compartilhando com vocês. Não é assim que vamos construir juntos uma educação compatível com a atualidade?

Curso Autocuidado - nível superior

Cursos Gestão de PICs; e Uso de Plantas Medicinais e Fitoterápicos para ACS


segunda-feira, 3 de março de 2014

Sobre a episteme comunicacional

SODRÉ, Muniz. Sobre a episteme comunicacional. MATRIZes – Revista do programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, São Paulo, ano I, n.1, p. 15-26, jul.-dez. 2007
------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Neste texto, Muniz Sodré levanta a questão ontológica sobe o fenômeno da comunicação, analisando os seus fundamentos teóricos. De início, faz uma crítica do patamar informacional em que se apóiam os clássicos estudos de mídia. Depois, aborda a comunicação como uma hermeneutica das novas formas de existência sob a midiatização.

Partindo da crítica, a comunicação é entendida, pelos clássicos, como instrumento (rádio, tv, internet) a ser analisado, ou como mero pretexto para a resolução de um problema de uma outra disciplina. Não se considera a midiatização dos fenômenos da sociedade. E por midiatização se entende “o funcionamento articulado das tradicionais instituições sociais com a mídia. Como objeto de um pensamento da comunicação social, sstena a hipóteses de uma mutação sócio-cultural centrada no funcionamento atual das tecnologias da comunicação.

Sodré faz uma crítica a conceitos clássicos (teorias como two step flow ou teorias da recepção) do interesse da análise de mídia, mas que não dão cargo para a questão epistemológica da comunicação. As tecnologias avançadas da comunicação e a velocidade de circulação das informações produzem uma outra temporalidade, que SODRÉ diz ser o “tempo real”. 
“no mundo posto em rede técnica, modifica-se profundamente a experiência habitual do tempo: virtualmente, conectado a todos os outros, cada indivíduo pode ser alcançado sem demora, nem período marcado, por qualquer um. Ísto é precisamente o ‘tempo real’, ou seja, a abolição dos prazos, assim como dos tempos mortos pelos dispositivos técnicos integrados em nossa ambiência cotidiana” (SODRÉ, 2007-pg 19)

Daí pensar no imediatismo, no espaço ilimitado e no baixo custo da rede cibernética.

MUNIZ SODRÉ reflete sobre a sociedade midiatizada, um novo tipo de sociedade diferente, que não é a sociedade do discurso (Foucault), nem a a sociedade de controle (Deleuze) e nem mesmo pode ser vista por campos (Bourdieu).

A partir desta reflexão, SODRÉ nos apresenta o conceito de “bios midiático” , que é “a configuração comunicativa da virtualização generalizada da existência”. Ela é “capaz de afetar as percepções e as representações correntes da vida social, inclusive neutralizar as tensões do vínculo comunicativo”(pg21).
A questão é a de se saber qual é a influência ou poder que essa articulação exerce sobre a construção da realidade social, na moldagem das percepções, afetos, significações, costumes e produção de efeitos políticos. Aristóteles apresenta três bios: do conhecimento, do prazer e da política. Ele chama de bios a cidade investida politicamente - a sociabilidade da polis. Muniz Sodré apresenta a quarta bios: a midiática, virtual. Uma mudança na forma de viver é real, tudo que se passa ali é real, mas não da mesma ordem da realidade das coisas. É representação, mais abstrata.

Não se parte do “eu” ou do “não-eu”, mas do “com” constitutivo. E por aí entra o conceito de comunidade. Para SODRÉ “para vincular-se, é preciso que cada um perca a si mesmo, que lhe falte o absoluto domínio da subjetividade e da identidade em função da abertura para o outro”(pg 21).

SODRÉ abandona a concepção informacional da comunicação e para para uma pespectiva constitutiva. Só que há problemas, como o da comunicação como modo próprio de inteligibilidade do processo de produção de sentido e de discursos sociais. Como tática, designa 3 níveis operativos:


  • Relacional: informacional, interação midiática- lugares dos estudos de mídia. 
  • Vinculativo: condição originária do ser, lugar da interação intersubjetiva.
  • crítico-comunicativo: ciência da comunicação; “a forma progressivamente assumida pela consciência é o da técnica, a ação concreta e real dos sujeitos, independente do contexto social e da tradição cultural”.
A partir dos anos 70, tem surgido aportes teóricos estruturalistas para a episteme comunicacional. O suejito falante cede lugar ao “código” – uma estrutura independente do sujeito e precedente à mensagem.